Tempo e estágio (in)determinados com aromas autênticos e genuínos sem anseio pelo imediato.
“Rodrigo Martins equacionou fazer do trompete vida profissional. Ainda compatibilizou Agronomia e música durante uma boa temporada, até que uma cadeira de Viticultura o despertou para o vinho. Fez mestrado em Enologia e desde então combina vinha e adega em tons melodiosos. É biológico por redenção, candidato a biodinâmico por convicção. Os vinhos pessoais, entre Óbidos e Alcobaça, mostram uma sinceridade e precisão difíceis de alcançar.
Rodrigo Martins é o enólogo de projetos tão distintos quanto a Adega Cooperativa de Alcobaça (onde se iniciou a solo no ofício), a Herdade das Fontes Bárbaras (Castro Verde, Alentejo), a Herdade do Cebolal (Península de Setúbal), a Quinta da Silveira (Vale da Vilariça, Douro), a Quinta dos Capuchos (Alcobaça, Lisboa) e a Quinta da Várzea da Pedra (Bombarral, Lisboa). Passou ainda pelos projetos Serra Oca (Quinta do Olival da Murta, Óbidos, Lisboa) e João Barbosa (Tejo e Alentejo), mas à medida que os Espera vão crescendo em afirmação, a quantidade de consultorias tenderá a diminuir.
Foi em 2014 que a história dos vinhos próprios começa a ser escrita. Rodrigo assumiu micro parcelas de vinhas velhas abandonadas e testou as primeiras vinificações. Sem rótulo nem marca, aproveitou o casamento, em que serviu os primeiros ensaios, para testar a criatividade dos convidados. As sugestões estiveram longe de corresponder às expetativas, pelo que o nome acabou por surgir em plena vinha. Rodrigo e Ana Leal, que assume a comunicação e o marketing do projeto, concordaram que Espera seria um nome fácil de memorizar e de transmitir em diferentes idiomas, significando também muito o processo natural e criativo que lhe está na origem.
Por entre vinhas próprias e parcelas arrendadas, contam-se cinco hectares em Alcobaça e quase outros tantos em Óbidos, embora ainda não totalmente a produzir.
Rodrigo continua a excluir o recurso a castas internacionais, defendendo que a diferenciação terá que fazer-se através do património genético nacional e, preferencialmente, regional. Lembra a chuvosa vindima de 2014, onde variedades como a Touriga Nacionalforam dizimadas, tendo o Castelão ficado incólume. Aliás, entende o Castelão como a casta tinta de eleição para Lisboa, a par da Tinta Miúda, do Moreto e do Ramisco, em localizações específicas. Nos brancos coloca as fichas no Arinto e no Fernão-Pires, dando também méritos ao Bical e prevendo para breve uma maior aposta na Baga.
Antes da pandemia, o negócio passava por garrafeiras e restaurantes mas a nova realidade alterou por completo o destino dos Espera. Estão hoje presentes em quase 20 mercados, para onde tem sido vertida mais de 85% da produção.
Rodrigo Martins, que a Revista de Vinhos nomeou recentemente para o prémio “Enólogo Revelação”, é na atualidade dos mais sólidos e talentosos protagonistas de uma nova geração. Mais do que isso, é hoje um vigneron lógico. Daqueles que sabe o que faz, daqueles que sabe onde quer chegar.” – José João Santos, in Revista de Vinhos